Agora sim, a viagem começou. Mas antes, vamos à inusitada noite do dia primeiro de Janeiro em Corrientes. Primeiro, tive que fazer uma romaria por TODAS as parrillas da cidade para descobrir que TODAS estavam fechadas por causa do feriado. Depois deste interessantíssimo tour proporcionado pelo taxista, parei numa tal de Piedra Libre para comer. Tratava-se de um restaurante daqueles cuja especialidade é TUDO (mal sinal...). Pizza, hamburguesa, milanesa, chorizo, massa, peixe. O que a imaginação mandasse. Lugarzinho estranho... um salão gigantesco e eu sozinho como único cliente sendo atendido pelas 3 prestativas garçonetes. Pedi um chorizo e, evidentemente, comi provavelmente o pior chorizo da minha vida (também, queria o que???? Ao invés de ficar na trivial pizza foi inventar moda num restaurante desse naipe, só podia dar nisso...). Muito bem, combinei com o infeliz do taxista pra me pegar num certo horário, e o infame não apareceu. Pedi pra gentil garçonete me chamar um e fique UMA HORA de pé na porta da espelunca esperando o táxi que não apareceu. Perguntei pra anta da garçonete (evidentemente a essas alturas ela já tinha deixado de ser prestativa na minha escala de avaliação há muito tempo...) se o meu hotel era longe dali porque eu queria ir a pé e ela disse que era muito distante. Tive que me virar, fui pro meio da rua literalmente caçar uma porcaria de um “remis”, no que tive sucesso. O cara mal começa andar e... chega ao hotel! Literalmente, 5 quadras. Sem comentários adicionais...
Hoje saí de Corrientes as 7h da manhã debaixo de chuva. Na saída do hotel, um senhor que também estava de saída comentou que o dia não estava bom pra moto. Mal sabia ele que chuva era tudo que eu podia querer pra hoje para atravessar o chaco e o Pampa Del Infierno. Além de amenizar o calor, a chuva também contribuiu para minimizar o consumo do meu pneu traseiro que já começa a ficar “em observação”. Na viagem a Ushuaia o Michelin Anakee abriu o bico com exatos 10.000 km, e como já passei dos 6.000 km com o Metzeler Endurance que está na moto e ainda tenho mais de 5.000 km pela frente, já começo a me preocupar. Mas a chuva hoje deu um bom refresco. O plano original era dormir em Salta, mas mudei de idéia, já uqe a viagem estava rendendo bem, e resolvi continuar até San Salvador de Jujuy. Chegando nesta última, mudei de idéia de novo e resolvi seguir até Tilcara, fazendo inclusive um desvio de 20 km do caminho original. Sábia escolha!!!!!!
De Corrientes até Salta, além da chuva, uma reta sem fim de 800 km. Região desolada, bicho pra cacete na estrada (cabra, jumento, vaca e muitos pássaros) e nada de interessante. Falando em bichos, cumpre-me pedir um minuto de silencia pela alma de um pobre pássaro que foi atropelado por mim..............................................................................ó dó!!!! Hoje a temperatura permaneceu oscilando entre 20 e 22 graus, para minha sorte e alívio, até Salta. O interessante foi observar a mudança de paisagem. A província do Chaco é extremamente árida. Entrando na província de Salta, há uma mudança gradativa, mas rápida, com campos verdes surgindo, algumas montanhas ao fundo. Saindo de Salta e entrando em Jujuy, aí sim, finalmente começou a viagem de verdade. Depois de 2.000 km de planície e mesmice na paisagem, começam a surgir montanhas, a vegetação fica diversificada e a própria estrada torna-se mais interessante. Em San Salvador de Jujuy, caía água que não acabava mais e resolvi seguir até Tilcara. No começo, me preocupei... A estrada começou a subir de forma acentuada e o termômetro começou a cair de forma inversamente proporcional. Num dado momento, chegou a 9 graus e eu já tava vendo a viola em caco, já que parar pra pegar as partes “quentes” das roupas de pilotagem debaixo de chuva era inviável. Mas pelo menos valeu pra me tornar um ardoroso defensor do aquecimento de manopla que muita gente acha frescura...
Mas o fato é que valeu a pena continuar. Embora com frio e chuva, a estrada foi ficando cada vez mais interessante. Agora já trafegava entre as montanhas, com paisagens muito bonitas (pelo menos, o que era possível ver através da neblina). Continuei subindo e, subitamente, mais uma vez, a impressão foi de um “corte” no clima em que eu estava enfiado para o início de um outro. A chuva parou, a neblina desapareceu e aí sim, foi pura diversão. De San Salvador de Jujuy a Tilcara são cerca de 80 km. Os últimos 50 km foram absolutamente impressionantes. A paisagem é belíssima, montanhas multicoloridas (ok, multicoloridas é meio gay, mas não encontrei outra palavra pra descrever...), estrada sinuosa e um rio de degelo cortando as montanhas. Aí, finalmente, começaram as fotos, algumas das quais seguem publicadas.
Pra terminar, cheguei em Tilcara e comecei a busca por hotel. Segui umas placas que vinham desde a entrada da cidade apontando um tal de Las Terrazas hotel butique e resolvi seguir pra ver no que dava. No caminho, circulei pela cidade que é fantástica. Muita gente na rua (predominantemente turistas), o povo local com aparência de índio, ruas estreitas, uma cidadezinha de 3.000 habitantes encravada no meio da montanha. Muitos bares, uma feira de artesanato na praça central, um bar que se auto-intitula o “ponto de encontro dos músicos” e, no final de tudo isso, achei o tal do Las Terrazas. Sinceramente, algo impensável de se achar num fim de mundo como esse. Um hotel muito, mas muito bacana, com piscina de borda infinita voltada pras montanhas, todo construído em estilo rústico, muitas pedras, realmente muito bonito. Aí não teve jeito, tive que ficar por aqui mesmo.
O fato pitoresco do dia foi um policial, no meio do Chaco, com uma cara de coitado das maiores que já vi na vida, dentes na boca no estilo um sim, outro não, outro também não, que me parou, pediu os documentos, aquela conversa mole sobre a moto, “que máquina”, etc e tal e no final, me devolveu os documentos e na maior cara dura, pediu uma “colaboracion para tomar uma gaseosa”. Juro que tentei, mas não tive como não cair na risada! Taí, gostei da honestidade, pelo menos não ficou inventando motivo pra querer “me multar”. Foi direto ao assunto. Em consideração, fiz uma doação voluntária de 2 dólares para a “gaseosa” do seu guarda... :-D
Agora, chega de conversa que faltam só 3 minutos pra hora de tomar a primeira Quilmes.
Saludos e espero voltar amanhã já de San Pedro do Atacama.
Um comentário:
Estou me programando para ir a San Pedro de Atacama no final de 2009, partindo de Sao Paulo, e gostaria de ter acesso a s/ rota feita no GPS. Aproveito para parabenizar-lhe pelo excelente relato feito de sua viagem ao Atacama. Abs. Mark.
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